terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Como funciona(rá) o Cheque Especial?


Cheque Especial é o nome dado, no sistema financeiro, ao limite disponível em conta corrente para uso imediato do cliente. Sua origem data da época onde os pagamentos eram feitos por documentos compensáveis e o cheque era o maior meio de pagamento, para movimentar grandes quantias de valores sem a necessidade do papel moeda físico.




A não atualização dos registros de entrada poderia configurar alguns desse documentos como sem fundos, ou quando atualizados podia se verificar a falta de recursos para honra-los, por isso os bancos criaram um mecanismo de disponibilização de recursos financeiros como uma modalidade de empréstimo, para que falta de fundos temporárias não travassem a compensação gerando fluidez ao mercado. 

Mesmo sem recursos, porém, com um limite para garantir a compensação evitaria a devolução do cheque. Com o passar do tempo para reduzir o volume de cheques sem fundos emitidos, foi permitido sua inclusão nos bureaus de crédito como restritivo, conhecido como CCF (Cadastro de Cheque sem Fundo), efetuado na segunda devolução por falta de fundos.

Abro um parágrafo para comentário: A devolução de um cheque pode ocorrer por vários motivos, o motivo classificado como falta de fundos gera um baita alerta em quem analisa crédito, pois o histórico do caráter de pagamento do indivíduo pode se revelar ruim com maior precisão do que outros restritivos, por isso muitas vezes o CCF tem peso maior na decisão de recusa de uma solicitação de crédito, lembrando que os restritivos tratam de quantidade de cheques sem fundos assim como os valores envolvidos.

Devido a indisciplina do brasileiro o uso dessa modalidade de crédito fez e faz um grande sucesso, pois além de cobrir cheques (hoje com redução de uso devido a novos meios de pagamento) os bancos descobriram que podem disponibilizar esses recursos para que sejam sacados fisicamente, o que permite que o cliente possa fazer uso do recurso para qualquer finalidade, não apenas cobrir cheques emitidos.

As taxas para quem usa essa modalidade de crédito são altas e como ficam disponíveis em conta corrente são muita fáceis de se usarem como uma armadilha, chega um ponto que o uso é tão constante que o cliente não consegue mais dissociar o que é seu recurso para cobrir gastos mensais ou o que é recurso do Cheque Especial, essa elevada carga contamina o endividamento dos clientes.

O Brasil adota o sistema de livre mercado onde os preços e juros são definidos pelo próprio mercado, porém com o elevado nível de endividamento e boa parte causada pelo Cheque Especial, o CMN (conselho monetário nacional) percebeu que a auto regulação do mercado estava sendo ineficaz para reduzir sua carga bem como seus efeitos nocivos para o endividamento, por esse motivo aprovou novas regras limitantes que passam a vigorar em 06 de janeiro de 2020.

Os bancos que concedem limites de cheque especial para os novos contratos terão teto de cobrança de 8% máximo na taxa de juros, os antigos contratos de cheque especial entram na mesma regra em junho de 2020, para compensar a eventual perda de receita de juros devido as limitações impostas, será permitido a cobrança de 0,25% como taxa para limites superiores a R$ 500,00 ainda que não esteja em uso pelo cliente.

Então se o cliente com limite superior a R$ 500,00 estiver em uso desse produto a taxa máxima será de 8% e terá a taxa de 0,25% descontada dos juros a pagar. Se o cliente não fizer uso do produto mas o fato de ter a disponibilidade de R$ 10mil em cheque especial o banco tem o direito de cobrar R$ 23,75 ao mês apenas por isso.

Os bancos terão de comunicar aos clientes o funcionamento de todas as regras, alguns bancos comunicaram antecipadamente que abrirão mão da cobrança da taxa, mas não se pode dizer quais as condições, o fato é que isso é mais um incentivo para que os brasileiros se disciplinem no uso desse produto.

Particularmente sou partidário da livre cobrança de taxas de acordo com o livre mercado, mas os brasileiros se mostraram ineficientes de sair do nocivo circuito de juros sozinhos, por isso o movimento do governo é bem vindo como uma tentativa de forçar os juros do mercado para patamares saudáveis.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Carreira Crédito - O profissional bonzinho.


Acredito que além de informações de crédito é válido compartilhar experiências profissionais, nunca se sabe a quem pode ser útil, baseado na experiencia de terceiros podemos adotar uma postura igual ou estar preparado para sua própria postura.





Algo que ajuda muito na formação e informação profissional é a leitura de alguns livros, aqui me baseio uma uma obra do Max Gehringer onde ele descreve várias situações profissionais o livro é muito bom e pode lhe ajudar a entender e se adaptar para melhorar.

Em uma das passagens cita o funcionário Bonzinho a quem se refere como o profissional que cumprimenta todo mundo, nunca reclama, não toma partidos que podem lhe comprometer, nunca diz não até para situações absurdas, auxilia todos inclusive é abusado pelos colegas, geralmente o bonzinho não gosta de aparecer, principalmente em situações de apresentação.

No fundo o bonzinho é aquela pessoa que todos queremos ter como colega de trabalho, aquela pessoa que podemos falar tudo e não teremos conflito, nunca se mete em intrigas, não corre riscos ainda que seja para fazer algo melhor, elogia todo mundo e está sempre disposto a ajudar.

Por isso chefes e colegas preferem que o bonzinho fique exatamente onde está, pois é a pessoa que carregará o piano e manterá a máquina em funcionamento, o bonzinho verá seus colegas serem promovidos / elogiados e ficará ali estagnado.

Acredito que todos tenham sua fase de bonzinho, desempenhei a minha por anos, fui escoteiro e nessa fase um dos meus chefes simulava a situações que o bonzinho precisa criar coragem para ser bom, transportar essa coragem para o mercado profissional levou um tempo e mesmo anos depois me pego sendo bonzinho.

As vezes você precisa criar a coragem para dizer não, ainda que um superior 2, 3x mais alto que seu nível hierárquico lhe pressionar, lhe faltar com o respeito não perca seu valor, se posicione, não deixe assumir um risco por que não tem suporte, não se impacte com títulos (gerentes, superintendentes, diretores, C-levels) são apenas títulos, siga líderes e esse pode ser o faxineiro, certa vez conheci um alfaiate que me ensinou mais que muitos graduados.

Para sair do seu papel de bonzinho, quando não concordar, discorde, seja respeitoso e não deixe de mostrar sua discordância! Faça network entenda outras opiniões, faça cursos para ampliar seus horizontes, pois um problema do bonzinho é que ele faz sempre o mesmo trajeto casa/trabalho/casa.

Se exponha ao risco faça entrevistas, você será forçado a se vender, se concluir uma tarefa bem feita, mande um mail a quem será impactado e aproveite para elogiar quem o auxiliou, eu ja perdi a oportunidade de elogiar pessoas que me ajudaram e me arrependi muito, aprendi do pior jeito, então reconheça quem lhe deu uma mão.

E para quem tiver preguiça de ler o livro, segue essa parte que o Max escreveu em vídeo que achei fuçando por ae.



quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

9 curiosidades do cartão de crédito para falar no boteco.


Em continuidade a um dos artigos que publiquei https://analistaconfesso.blogspot.com/2019/11/entendendo-o-cartao-de-credito.html onde falo do funcionamento do produto cartão de crédito, aqui cito algumas curiosidades (cultura inútil) para que tenha assuntos na mesa do boteco. 







1 - Embossar termo utilizado para o cartão de crédito que será produzido, impresso, esse jargão brazuca tem origem na palavra embossing que em inglês pode ser livremente traduzido como imprimir. 

Certa vez um diretor veio a minha mesa e disse: "Precisamos Embossar um cartão em caráter especial, suprimindo ao máximo o sobrenome do cliente"

O diretor se referia a produzirmos um único cartão especial que não seria enviado no lote diário de envio com os demais, esconderíamos ao máximo o sobrenome do cliente por estar ligado a uma família muito rica, em alguns casos o processo tenta proteger clientes para menor exposição ao risco, nesse caso o risco de identificação do sobrenome poderia atrair algum risco físico ao cliente.

Há emissores de cartão que abrigam um time designado para cuidar de clientes realmente VIP's como famílias importantes que estão no conglomerado de negócios, celebridades e outras figuras que precisam de tratamento diferenciado na política de relacionamento, assegurando que terão menor atrito possível. 

Todos deveriam ser tratados assim! você deve pensar, o problema é que manter uma equipe especial para isso tem um alto custo e não seria possível ofertar produtos acessíveis se todos tiverem alto custo de operação.


2 - Embedar é um conceito semelhante ao Embossar, porém o termo é utilizado quando o cartão possui o micro-chip, então um cartão com tarja magnética será embossado e embedado (os nomes são feios mesmo).

O termo também vem do inglês Embbeding que em livre tradução é embutir, nesse caso fazer um sulco (uma cavidade) no cartão para acomodar o micro-chip.

Uma curiosidade adicional, o chip mesmo é menor que um grão de arroz, o que vemos no cartão não é o chip e sim ramificações de conectores, assim podem ser lidos pelas máquinas de captura, popularmente conhecidas como maquininhas.







3 - Micro-chip dos cartões de crédito nasceu para baratear a operação e não para trazer mais segurança como muitos acreditam, acontece que o processo de autorizar uma transação é de alto custo veja:

a) ao entregar seu cartão para o lojista, o mesmo insere os dados para o pagamento, a máquina de captura envia a transação para o emissor do cartão, onde valida uma série de parâmetros entre eles se há limite disponível, tudo isso ocorre em milésimos de segundos, e cada transação tem um custo.

Uma das muitas funções do chip é validar a senha do cliente antes do envio, caso a senha seja divergente a transação não é enviada, reduzindo assim o custo da operação.

O chip tem condições de fazer muito mais do que hoje é realizado, ele poderia autorizar a transação ali na maquininha sem a necessidade de viajar até o autorizador todas as vezes, algo que seria mais barato e rápido. 

b) Com informações armazenadas poderia realizar ações de marketing de acordo com a máquina de captura, trazendo benefícios ao cliente.

Um mar de ações poderiam ocorrer mas nem sempre se usa todo potencial do micro-chip.


4 - Bin do cartão, a sigla se refere à expressão em inglês Bank Identification Number, que significa “Número de Identificação Bancária”. Hoje em dia não só os bancos que emitem cartões, por isso há o Issuer Identification Number (IIN), que significa “Número de Identificação do Emissor”. Em ambos, o código integra o número do cartão, impresso no mesmo. 

Corresponde aos 6 primeiros números do cartão. Os outros números que compõem a sequência servem para identificar a conta individual que está vinculada àquele cartão. Somente o último dígito é diferente. Ele funciona como um dígito verificador. 

Para tanto, existe uma fórmula matemática, chamada de algorítimo de Luhn, com a qual você pode encontrar o dígito verificador jogando os demais dígitos. Assim, se você não encontrar o mesmo dígito, é possível concluir que o cartão não possui um número válido.

Poderia falar horas sobre o Bin, pra resumir, com ele sabemos quem emitiu, que tipo de produto é, e a quem pertence. 

Os emissores podem trabalhar com Bin aberto ou fechado algo que há prós e contras em relação a fraudes, mas isso será assunto para outro artigo. 




5 - Código de segurança, infelizmente o cartão de crédito é alvo de inúmeras ações de fraude, quando possui apenas a tarja magnética a modalidade mais comum de fraude é a clonagem também chamada de skimming, onde um leitor captura as informações da tarja e pode repassar a outro cartão.

Para inibir esse problema foi criado o código de segurança 1, que fica afastado dos demais códigos impressos na tarja magnética, com o passar do tempo os leitores de fraudadores também podiam ler esse código, por isso criou-se o código de segurança 2.

Esse segundo código são os 3 números que observamos impressos no verso do cartão, eles não ficam gravados na tarja, para compo-los há uma chave de criptografia que combina dados do número do cartão e dados do cliente.

Você verá muitas vezes esse código descrito como CVV (card verification value), CVC (card validation code) ou CSC (card security code)

Sites modernos colocam digite aqui seu código de segurança (para facilitar tantas nomenclaturas) e alguns até apontam uma imagem onde o cliente pode localizar o código (no verso do plástico), problema é que alguns cartões tem seu código na frente. 




6 - Saque cash, quase todo cartão permite sacar um limite em dinheiro em caixa eletrônico, porém a taxa de juros nesse processo é bem alta, pra ter uma ideia é mais alta que a própria taxa do cartão, que já é a mais alta entre qualquer produto de credito no Brasil. 

Fazer uso desse recurso também aponta um alerta no risco de inadimplência ou fraude, pois o cliente que recorre a esse mecanismo está bem enrolado por algum motivo.




7 - Overlimit, a maioria dos cartões de crédito possuem um limite extra ao limite contratado, isso permite que ocorra transações acima do limite oficial do cliente. 

Ex: Um cartão com R$ 1000,00 de limite pode ter uma política de Overlimit de 10%, então permite que o cliente ocupe até R$ 1100,00 em transações, isso pode ajudar o cliente em uma compra extra. 

Vale ficar de olho, pois os emissores podem cobrar uma pesada taxa do cliente que fizer uso desse recurso. Há políticas de crédito específicas para Overlimit onde gestores de crédito experientes podem flexibilizar esse processo de acordo com a necessidade de compras do cliente.

Por exemplo, cartões com quase 100% de ocupação do limite podem deixar passar além se a transação for em um hospital ou farmácia, por entender que o cliente está em uma emergência médica a política de Crédito pode dar uma forcinha para o cliente em momento de necessidade. 

Uma boa política de Overlimit pode melhorar a experiência do cliente com o produto, além de rentabilizar em outras esferas a receita do emissor. 




8 - Comprar sem o cartão, você pode comprar na maquininha por transação digitada, geralmente esse tipo ocorre por telefone onde o cliente pode dizer os dados do cartão ao lojista e o mesmo digita tudo na maquininha, para isso não há a solicitação de senha, é uma modalidade de transação que conhecemos como off-line.

Em teoria uma transação off-line ocorre sem a presença do cliente no local da transação, as compras pela internet são um exemplo disso, pois você apenas digita os dados do cartão e do cliente para fazer uma compra, a senha não é solicitada, por isso o canal de internet é um grande problema de ataques de fraude. 



Caso saiba todos os dados do ser cartão pode usar a máquina para fazer a transação sem a necessidade de tira-lo da carteira, porém pode chamar a atenção do estabelecimento.



9 - Por quê o impresso dos números do cartão estão em alto relevo?






Isso vem da época em que não tínhamos tecnologia digital. Não havia internet nem bancos e sistemas conectados.

Ao apresentar o seu cartão de crédito, o dono do estabelecimento pegaria um formulário carbonado em três vias, encaixaria numa plataforma onde também encaixar o seu cartão. Então passaria um rolo sobre eles de modo que o relevo do seu cartão imprimisse seus dados no papel carbonado. Só então preencheria a mão o valor e a data da compra. Por fim, entregaria para você assinar, destacaria uma via para ele, uma para você e outra para empresa emissora do cartão de crédito. É a imagem inicial que ilustra esse post.
Produzir cartões sem relevo é bem mais barato, alguns usam o alto relevo para cartões internacionais, pois dependendo do país ainda se usa essa modalidade, maquinas assim são chamadas popularmente de Reco-reco, ou ralador, por lembrarem o formato.



terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Como funciona o crédito imobiliário



Observando profissionais de outros ofícios notei algo comum que os faziam melhores em suas execuções, por mais que já trabalhassem em um determinado segmento não deixavam de conhecer cada detalhe e técnicas do que faziam, independente de seu setor de ofício. 
Essa busca por aperfeiçoamento ocorre não pela profissão, mas pela quase obsessão de ser o melhor naquilo que fazem, conheci um vidraceiro que dominava cada componente do vidro e seu estado de temperatura, seu conhecimento de termodinâmica superava muitos físicos que encontrei, outra vez conheci um padeiro cuja técnica de fermentação havia chegado a um nível de perfeição que seu conhecimento em nada devia para muitos químicos e biólogos. Isso prova que para executar seu ofício muitas vezes se faz necessário ter muito conhecimento em outra área para executar a sua função com máximo domínio.
Observei o mesmo comportamento em vários outros profissionais de setores diversos, algo válido também para quem trabalha com crédito, conhecer a fundo o que estão analisando, novas técnicas e outros produtos de crédito que não sejam o de sua atuação tem uma grande relevância, bem como conhecer a atuação da concorrência, essa curiosidade contribui para o crescimento. Outra forma de ampliar esse domínio é experimentar o processo de cada produto de crédito para entender mais afundo como isso funciona, aliás conheci muita gente que trabalha com crédito que não tem a menor curiosidade de saber mais.
Tive a oportunidade de trabalhar com múltiplos produtos de crédito, por isso compartilho um pouco de como funciona o Financiamento de Imóveis, um produto bem diferente dos demais, não está ligado diretamente ao fomento de consumo, por exemplo: Cartão de Crédito e Crédito pessoal são créditos destinados ao consumo de bens e serviços como; compras, estética, saúde etc… 
Quando falamos de financiamento o montante tem uma finalidade específica, é destinado ao bem móvel ou imóvel, diferente do crédito de consumo que é destinado a qualquer fim com um risco maior. Por envolver o financiamento de um bem o mesmo é a garantia de que seu tomador honrará o compromisso firmado, em caso de quebra de compromisso o bem irá para a instituição que concedeu o financiamento.
Por isso diferenciamos o crédito em 2 tipos, crédito com garantia onde há alguma garantia adicional de que o tomador honrará seus pagamentos, como exemplo de garantia podemos citar:
  • Seguros (em caso de inadimplência a seguradora garante o pagamento).
  • Investimentos (valores investidos garantem que o tomador se necessitar pode recorrer a essas fontes para honrar seus compromissos).
  • Avalista (aqui se envolve um terceiro que garantirá o pagamento em caso de inadimplência).
  • Imóveis, máquinas, terrenos, automóveis e recebíveis futuros (podem ser usados como uma garantia de pagamento).
A garantia também chamada de colateral fornece segurança para que haja liberação de crédito com taxas menores, esse é um dos muitos fatores que permitem taxas competitivas quando comparadas ao segundo tipo de crédito, o crédito sem garantia, como é o caso do cartão de crédito, pois quem concedeu não possui garantia de que o tomador honrará seu compromisso.
Isso explicado vamos ao ponto de como funciona o crédito para financiamento de imóveis.

Como funciona?

O objetivo é permitir ao tomador do crédito acesso a comprar um imóvel (casa, apartamento ou terreno) tanto para uso comercial quanto residencial, uma vez que falamos de valores expressivos os créditos liberados são em média altos e por um prazo que pode se estender por 360 meses (30 anos). Por isso seu formato de análise se difere de outro produtos de crédito.
No Brasil muitos produtos sofreram modernização no formato de análise, permitindo a contratação de um empréstimo via site ou aplicativo em segundos. Infelizmente o Financiamento Imobiliário até 2019 não sofreu modernizações em seu formato nos últimos 30 anos, por isso os processos são os mesmos há mais de décadas. Hoje a via cruxis passa por 5 grandes etapas.

Etapa 1 - Escolha do Imóvel

Esse processo depende da necessidade do cliente, pode ser um imóvel para moradia, investimento ou comercial, cada finalidade pode enquadrar o cliente em uma análise diferente para decisão de concessão.
Há um conjunto de documentos diferentes para cada perfil de cliente, Solteiro, Casado, Empresa, há um rito específico de documentos de acordo com o perfil e cada instituição pode requerer mais ou menos informações.
Escolhido o imóvel, o cliente precisa negociar o valor com o vendedor, uma vez acertada essa negociação o vendedor exigirá um valor de sinal, pode até ser simbólico como R$ 1.000,00 para travar a entrada de outras solicitações, um contrato de gaveta geralmente é firmado para que o interessado tenha prazo de seguir para outras etapas, evitando que outra pessoa ingresse com o financiamento para o mesmo imóvel.
Geralmente esse valor de sinal é incorporado na composição da negociação e dependendo do acordo pode ser devolvido pelo vendedor caso o comprador não tenha seu pedido de crédito aprovado, aqui é na base do acordo de cavalheiros não tem uma regra geral sobre esse processo.
A escolha do imóvel assim como auxilio nas negociações pode ser feita através de um corretor, se for o caso há uma remuneração por esse serviço que em média é de 6% do valor da negociação que pode ser paga pelo vendedor ou pelo comprador, depende da parte que envolveu o corretor.
Isso pode ser bom ou ruim, depende do profissionalismo do corretor envolvido, o processo pode ser negociado diretamente entre comprador e vendedor, porém vai exigir bastante empenho e o mínimo de conhecimento do processo.

Etapa 2 - Escolha da instituição e simulação de condições.

Agora que você sabe qual imóvel adequado a você e seu perfil, está na hora de procurar com quem financiar esse bem. O leque de escolhas hoje é vasto.
  • Bancos (Públicos e Privados).
  • Fintechs
  • Cooperativas de Crédito.
Em cada um deles poderá simular quais as condições de valores, prazo, taxa e parcela que poderá conseguir, como profissional de crédito recomento escolher aquele que lhe oferece a melhor taxa, porém a grande maioria dos brasileiros optam pelo valor da parcela que podem pagar, por isso a realidade de cada um deve ser respeitada.
Lembre-se que as simulações ofertam uma perspectiva, baseada nas informações passadas pelo cliente, caso haja alguma diferença com a realidade ou alguma condição diferente os valores, taxas e prazos podem ser alterados no momento de celebrar o contrato, a grande maioria das vezes a simulação lhe dá um bom panorama do que será sua realidade.
Nessa etapa o cliente também escolhe o tipo de tabela que será usada para amortização dos juros (SAC ou PRICE) poderemos falar disso em outra oportunidade.
Uma vez escolhida a instituição vamos para a próxima etapa.


Etapa 3 - Análise do Crédito e das Informações.

A análise de concessão tem basicamente 3 grandes momentos.
  1. Subscrição - termo muito usado no mercado de seguros, para garantir que as mínimas informações de aceitação serão obedecidas.
  2. Análise do risco de crédito - como trata-se de valores elevados por longo prazo é importante garantir em qual patamar de risco o cliente se encontra, nesse momento cada instituição adota um critério máximo de risco e mínimo de renda, para garantir que o cliente tenha condições de assumir tal responsabilidade, com a capacidade de pagamento necessária para honrar seus compromissos.
  3. Avaliação documental - Será necessário uma minuciosa vistoria nos documentos do imóvel garantindo que todas os registros estão em ordem. Aqui há documentos que possuem prazo de validade, por isso gera bastante atrito caso a área responsável pela analise demore para fazer o trabalho, pois exigirá que o cliente re-apresente alguns documentos.
Nessa etapa o cliente informa quais as condições deseja que o processo seja feito, inclusive informará qual o valor de entrada e de onde virão os recursos, que podem ser próprios, incluindo o uso do FGTS. (para uso desse há uma série de regras que poderemos falar em outra oportunidade)
O Cliente terá de reunir todos os documentos solicitados com sua respectiva cópia para apresentar.
Desconheço alguma instituição que financie 100%, geralmente o máximo financiado é de 90%, a média das instituições financiam 70% do valor total, esse percentual em relação ao valor do bem é chamado de LTV (Loan to Value), por isso vale se atentar a isso, pois se a instituição escolhida financiar 70% do valor, você deverá dar como entrada os 30% lembrando que além disso há outros custos que você deve se preparar para absorver.
Se essas 3 etapas estiverem ok vambora pra próxima. 

Etapa 4 - Avaliação do imóvel

Nessa fase a instituição agendará com o cliente a visita de um engenheiro para avaliar se o valor do imóvel condiz com o informado, geralmente o engenheiro tem conhecimento do tipo do imóvel e tamanho para a região, com isso atesta se os valores informados estão dentro do esperado. Recentemente foi permitido que essa análise possa ser realizada através de modelos matemáticos, porém nem toda seguradora se modernizou para aceitar risco através do novo formato, muitas só asseguram o bem (falaremos mais adiante) mediante ao laudo de vistoria.
Normalmente esse é um serviço a parte pago pelo cliente, se o cliente desistir esse valor geralmente não é reembolsado, caso haja divergência entre a avaliação do engenheiro e a informação original a análise de crédito bem como as condições podem ser revistas.
Etapa 5 - Registro do contrato.
Se tudo estiver ok será celebrado um contrato entre a instituição, comprador e vendedor. Nesse contrato a instituição se compromete a pagar o valor financiado à vista ao vendedor, o mesmo venderá o bem para o comprador, onde esse alienará o bem para a instituição, permitindo que a mesma tenha absoluto domínio sobre o imóvel, até que sejam honradas todas as parcelas.
Esse contrato é levado ao Cartório de Registro de imóveis, e não é qualquer cartório, o comprador deverá levar o contrato para o mesmo cartório onde o imóvel foi registrado pela primeira vez, tudo que ocorrer de atualização no registro, a chamada averbação, deve ocorrer nesse cartório. 
Nessa fase há outros desembolsos o ITBI (Imposto de transmissão de Bens e Imóveis, em outra oportunidade posso compartilhar mais sobre esse imposto), que é pago pelo comprador, pode ser financiado também, algo que não recomendo. Como profissional de crédito indico que é melhor juntar a grana e fazer o pagamento do ITBI à vista, do que financiá-lo, a alíquota do ITBI muda de município para município chegando até 3%.
Outro pagamento é o serviço de registro do imóvel, nesse serviço um profissional do cartório compara todas as informações do último registro com o contrato que está sendo apresentado, algo que demora um tempo indeterminado e o valor dependendo do município também é falado na hora, isso mesmo!
O responsável do cartório diz: “O valor será mais ou menos, X mil reais” que você deve pagar em Cheque ou dinheiro, isso mesmo! Não se aceita outra forma de pagamento, o valor no final poderá ser mais ou menos, algo que só saberá alguns dias depois, quando o cartório lhe avisar o valor, se for mais você deve arcar com a diferença indicada, caso contrário o cartório não libera o documento, se o valor for menor o cartório deve lhe devolver, mas eles fazem apenas com pagamento em cheque.
Abro esse parágrafo para um desabafo, pois já passei por esse calvário: O cartório recebe apenas em dinheiro ou cheque, logo esse valor não figura em lugar algum, só ingressa no sistema bancário caso o cartório queira, esse valor circulante abre espaço para não declararem ou pagar os devidos tributos, para um cliente como eu que nunca usara uma folha de cheque na vida, são obrigados a transacionar em dinheiro o que é um baita risco. No meu caso não deram prazo de nada, disseram que eu devia ligar a partir de uma data para saber se estava pronto ou não. Outro fator que incomoda bastante é que o cartório cobra seu valor de acordo com o valor do imóvel e não com o trabalho que terá, pois se o esforço para analisar o documento de um imóvel que custa R$ 200mil contra um de R$ 500mil for exatamente o mesmo, não há um motivo justo para que o valor do serviço seja diferente dado que o trabalho será o mesmo. Como disse no início do parágrafo, é apenas um desabafo de alguém que se sente vilipendiado pela instituição chamada Cartório.
O cliente que desejar esse tipo de crédito, precisa se blindar psicologicamente para não querer matar alguém no cartório.
Quando o registro finalmente fica pronto, você leva esse contrato (gigantesco) de volta para a instituição com quem está negociando, eles ficam com uma das das vias do contrato, uma via fica com o vendedor e outra via fica contigo, a instituição paga ao vendedor e finalmente você pode iniciar os pagamentos e fazer uso do imóvel.
Em resumo conseguir crédito para financiar um imóvel é uma tarefa que exige bastante empenho, não apenas escolher uma instituição engajada mas ter a sorte de ser atendido por profissionais com vontade de fazer seu trabalho, o processo é demorado devido a não automação dos cartórios, tal processo dificilmente leva menos que 30 dias, por isso é necessário bastante preparo mental.
Tenha em mente que você deverá possuir valor para:
  • Entrada de 30% do imóvel (em média).
  • Pagamento do laudo de vistoria.
  • ITBI até 3% do valor do imóvel.
  • Pagamento do cartório que nem deus sabe quanto será exatamente.
  • Reformas (muito difícil encontrará o local exatamente nas condições que você precisa).
  • E se você contratou um corretor terá de pagar os 6% de comissão.
Há muito mais a falar sobre crédito imobiliário e seu funcionamento, em outros artigos compartilharei mais, pois esse já ficou beeemm maior do que eu gostaria, mas é um produto ainda muito burocrático.


Fontes: 

sábado, 7 de dezembro de 2019

Semelhança publicitária entre crédito ruim e o tráfico de drogas.


Anos atrás o ministério da saúde lançou uma propaganda anti-tabagista, o cenário se abria com traficantes armados de fuzis ao fundo e um encapuzado narrava: 

“Se eu fosse fazer uma propaganda dos meus produtos irmão, faria como propaganda de cigarro. Podia ter um lugar bacana, uns playboy sarado fazendo esporte, mostrando que a droga não vicia, não faz mal…aí todo mundo ia experimentar, achar legal, se viciar (rs). Ae irmão já era, virou meu cliente!”





Em muitas ocasiões a única diferença entre o remédio e o veneno está na dose e na aplicação, o uso indiscriminado ou incorreto de alguns produtos de crédito podem causar sérios problemas.

Há uma enorme responsabilidade publicitária no desejo de alguns produtos de crédito, propaga-los apenas em um lugar bacana, com pessoas praticando consumo e se viciando é um fator contributivo para o cenário de endividamento, longe de ser o vilão responsável, porém com grande peso nesse processo.

Se eu fosse fazer uma propaganda de produtos de crédito ruim seria assim:

“Um cenário com filhotinhos caninos, ou algum animal de estimação correndo, pessoas felizes e uma narrativa assim: Seu crédito aprovado sem complicação, aprovamos seu crédito na hora, seu crédito instantâneo. Não fazemos consultas a bureaus de Crédito, mesmo negativado tenha crédito conosco.”


Por quê a semelhança publicitária?


Veja que no primeiro caso o traficante cita como faria para que as pessoas se tornem seu cliente, estabelecendo como parâmetro as propagandas da indústria de cigarros, se ele pudesse propagar da mesma forma os resultados de conversão / aceitação de seus produtos seria o mesmo.

O que fica por baixo do tapete da publicidade é quão nocivo os produtos são, na indústria do crédito ocorre o mesmo, com a diferença que todos os créditos de juros altos podem ser propagados livremente, afinal não é ilegal a forma com que cada instituição precifique sua taxa de juros (nem deve ser, sou um defensor do livre mercado), o que aponto é o efeito colateral desse processo.

Clientes endividados e sem alternativas ao crédito com juros competitivo, recorrem a produtos menos ortodoxos de taxas, com juros que passam de 2 dígitos ao mês, propagandas sedutoras em letras garrafais que prometem solução e facilidade tem por trás uma elevada carga, que podem resolver artificialmente o problema, assim como uma droga é um alívio momentâneo, quando o efeito passar o impacto será pesado e pode recorrer a mais…mais…mais até o ponto de overdose.


Se taxa ruim é veneno, qual taxa boa é remédio?


Como profissional do crédito posso dizer com segurança 2 coisas: NÃO TENHO A MENOR IDEIA, DEPENDE DE CADA CASO. 

Em minha opinião vale jogar na luz da transparencia, quer seja na taxa ou nos demais serviços embutidos, deixar o cliente descobrir as entre linhas do produto em momentos de atrito é algo nocivo, nos dias de hoje com tantas opções o cliente não leva desaforo, pelo menos não por muito tempo.

Há pouco tempo algumas empresas de crédito encabeçaram o * NÃO, hostilizando com razão, aquelas letrinhas miúdas que possuem informações importantes e nem sempre esclarecidas ao cliente final. 

Eu particularmente gosto das publicidades que escancaram suas taxas, pois se ofertam juros competitivos tem o orgulho de dizer isso, visitei muitos sites de crédito, as instituições com maior carga de juros, não escancaram isso na primeira página, colocam na última com letras bem pequenas ou nem isso, apenas no contrato final que mal o cliente lê ou consegue interpretar.

Cada produto de crédito possui uma finalidade e dose, se usado na finalidade errada com a dose incorreta eu sei que dará problema, a pergunta é quando?

Se posso contribuir finalizo com:

Publicidade de crédito solução tem sua taxa exposta de forma clara ao cliente, publicidade de crédito problema não!
Não use drogas, nem crédito ruim!




Fontes:
  

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Profissionais de Crédito são Numeratis?

A palavra Numerati vem do idioma italiano para designar profissionais que trabalham com números e dados para qualquer finalidade.




Em 2009 o escritor Sthepen Baker, escreveu sobre os Numerati citando-os da seguinte forma:
“São membros de uma elite da ciência da computação e da matemática focados em analisar todos os nossos passos em busca de padrões de comportamento que possam prever o que queremos comprar, em quem vamos votar, por quem vamos nos apaixonar, quais doenças teremos. Por meio do cruzamento de dados de acessos a internet, usos de cartão de crédito e demais atividades monitoradas por códigos binários, os Numerati rastreiam perfis de comportamento, e uma nova abordagem da sociedade nasce com isso. Seu objetivo? Manipular nosso comportamento - o que compramos, como votamos, quem namoramos - sem que sequer percebamos”
Observe que as características de um Numerati equivale ao “know how” dos profissionais que também trabalham com análise de concessão ao crédito, onde focamos em vasculhar padrões que caracterizam, veracidade, histórico, capacidade e caráter de pagamento, como suporte na decisão de concessão. 

É preciso ter cuidado com eles



No ano de lançamento do livro Numerati a revista época questionou ao escritor se somos perigosos, a resposta foi;

“É preciso ter cuidado com eles. Têm um poder sem precedentes para desvendar nossos segredos. E cometem erros o tempo todo – porque lidam com estatística e probabilidade. O poder deles sobre sua vida depende de quanta informação particular você quer deixar nas mãos deles.”.
Nessa época nem se cogitava a LGPD, que virá com força total em 2020, Numeratis continuarão a vasculhar de dados para entender é influenciar a vida de milhares, os profissionais de crédito também, com a diferença que deveremos informar e solicitar a permissão do usuário para fazê-lo além de outras coisas mais. 

O escritor acerta quando diz que cometemos erros o tempo todo, afinal aprovamos e reprovamos propostas com margens de erros, fazemos tudo para reduzir essas margens, não negamos que excessos são cometidos.

Além de rastrear padrões como cães policiais, Numeratis que trabalham em crédito usam técnicas matemáticas (soma, subtração, divisão e multiplicação), estatísticas (médias, probabilidades, scores, quartis e decis) para classificar e analisar situações, Pesquisa Operacional para otimização de resultado e melhoria nas estratégias, dominamos todo tipo de recurso computacional para programarmos nosso próprio processamento de dados, deixando boquiabertos qualquer profissional de TI.

Numeratis que trabalham com crédito ainda possuem duas habilidades acima dos demais, lidam com o difícil jogo de interesses com o time comercial e de marketing (no português claro, quebramos o pau), e brincamos de Macgyver fazendo malabarismos para que tudo funcione mesmo sem recursos humanos, verba e suporte.

Sim, profissionais de crédito são Numeratis e nossa sociedade veio pra ficar.


Fonte:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI64516-15224,00-CUIDADO+COM+OS+NUMERATI.html

sábado, 23 de novembro de 2019

6 comentários que todo analista da crédito ouve.


O mundo do crédito é fascinante e ter relacionamento com outros profissionais do setor é infelizmente uma oportunidade rara. As empresas tem a cultura de alta proteção de estratégias e práticas, algo que não contribui com a troca de experiências.

As que se abrem para compartilhar e proporcionam benchmark, na minha humilde opinião, tem mais a ganhar, assim como seus profissionais de crédito, nas raras vezes que tenho oportunidade de encontrar fisicamente outros profissionais do setor sempre falamos de algo comum que ouvimos e compartilho aqui.





1 - Você trabalha em banco, em qual agência?

Essa é comum para quase todo profissional bancário, seja de crédito ou do marketing, o público geral conecta quem trabalha em banco a agências bancárias, algumas áreas ficam centralizadas e infelizmente sem contato com o público geral. Certa vez tive oportunidade de trabalhar em um banco que promovia a visita regular às agências para entendermos a realidade de quem trabalha nas agências e a do cliente final.

Esse programa é muito importante para fazer com que as áreas de negócios encarem nas ruas como os negócios de fato ocorrem, isso auxilia a criação de políticas que facilitam a operação de quem encara nos olhos o cliente final, e torna a experiência do cliente melhor. 

O interessante nesse processo de ida à rua, é a possibilidade de avaliar que o consumo do crédito muitas vezes é algo cultural, o que se faz com o crédito no sul é diferente do que no norte e nordeste, ao visitar agências no centro das capitais o comportamento do cliente é diferente do comportamento do cliente da agência localizada na periferia, que também é diferente do cliente que circula na agencia dos bairros considerados nobres. 

Dificilmente alguém do crédito será visto na agência o que não permite receber visitas de amigos, conhecidos e parentes, graças a deus!

2 - Pode aprovar! Esse cliente é ótimo, conheço desde criança.

Essa é clássica do comercial ou do time de vendas para que possamos analisar um cliente que geralmente está mais sujo que pau de galinheiro.

É claro que nem todos os casos são um problema, em maior ou menor pressão quase todo analista de crédito é persuadido pelas áreas comerciais / marketing a aprovar um cliente, com argumentos muito positivos. Faz parte do jogo e entendemos bem como isso funciona, não é só porque alguém disse que o cliente é bom que serão concedidas aprovações como chuchu na serra. 

Podemos re-avaliar de acordo com os argumentos de relacionamento, sem perder de vista o risco real da aprovação.

3 - Estou com CPF sujo, será que pode me ajudar?

Sei-lá por que cargas d’água nos confundem com quem trabalha na cobrança ou nos bureaus de proteção ao crédito, algumas pessoas acreditam que profissionais do crédito podem dar um “jeitinho” nas dívidas.

O máximo que podemos fazer, é dizer: Tem uma forma infalível de limpar o nome, PAGUE A DÍVIDA! Se for alguém próximo pode até dar algumas orientações, ou se for um devedor da sua instituição pode fornecer os contatos adequados para que o mesmo possa negociar sua dívida.

Não vou mentir que já ajudei muita gente endividada, pessoas físicas e jurídicas a resolverem seus problemas, ora por ser pago por isso e ora por tentar fazer uma boa ação, para conseguir pontos no dia do juízo final e tentar compensar quantas maldades já fiz nesse mundo.

O fato é: não conseguimos dar um “jeitinho” pra ninguém, se estivermos de bom humor podemos orientar alguns caminhos.

4 - Preciso de crédito pode me ajudar?

Essa geralmente ouvimos de pessoas próximas, analistas conscientes que vestem a camisa, entendem o caso e orientam o solicitante, de preferência orientando produtos de crédito de onde trabalham.

Não vou negar que já orientei a consumirem produtos de crédito da concorrência, certa vez trabalhei com crédito para Empresas e sabia que a concorrência tinha melhores condições do que onde trabalhava, como eu queria o melhor para aquele solicitante o encaminhei para o concorrente, pois eu sabia que minha empresa (na época) não fazia o melhor pelo cliente e não fazia questão de mudar de postura (esse foi um peso importante pra eu mudar de empresa).

5 - Esse cliente é amigo do presidente! Pode analisar aprovação pra ele?

Isso é o que chamamos de carteirada, vale muito cuidado com casos assim. Primeiro pode ser falso, falaram isso só pra botar pressão e segundo pode ser verdade e uma negação pode te colocar em péssimos lençóis.

Certa vez chegou a minha mesa uma aprovação de um conhecido empresário brasileiro que figurava na Forbes, eu analisei em detalhes e recusei a proposta apontando na política minhas argumentações da negativa. Ao final coloquei a seguinte frase em letras GARRAFAIS.

“A proposta 0023 do fulano, pode ser aprovada em caráter de excessão, desde que aprovada pelo presidente da empresa devido ao valor de alçada˜.

Se uma proposta tem ligações internas e externas com forte cunho político e de relacionamento, coloque a bomba em uma alçada superior com seus comentários técnicos e análise de risco. 

Haja o que houver suporte a pressão, pois se der M, você terá feito seu papel, principalmente se estiver seguindo a política de crédito. Nesse caso em questão fui severamente criticado e pressionado, não mudei meu comentário na análise e a proposta foi aprovada por excessão.

Meses depois o empresário estava encarcerado, por gestão temerária. Nunca recebi um pedido de desculpas e jamais cometi o erro de dizer em voz alta: EU AVISEI. Em casos assim jamais espere retratação, se sua análise for errada e o cliente for bom pagador esteja preparado para exposição ao escrutínio, e nunca diga EU AVISEI, superiores odeiam isso por ser um comportamento de insubordinação.

6 - Seu colega do crédito negou a proposta de um bom cliente, você pode analisar?

Isso lembra aqueles filhos que dizem: Mãe posso torrar o cartão de crédito? O Pai deixou!, e diz a mesma coisa ao Pai. 

Alterar a decisão de um par é algo bem delicado, ainda que o mesmo tenha errado na análise. Nesses casos vale  conversar com seu par quem fez a primeira análise para avaliar se o caso pode ser revertido, é legal que essa reversão seja feita por ele e não por outro analista de crédito, para não colocar em xeque as decisões da área.

Reverter decisões de pares pode causar um grande problema interno, vou confessar que já mantive a mesma decisão de um par mesmo sabendo que cabia uma reversão, para criar uma unidade na credibilidade da área, lembre-se que o inverso pode acontecer com você, caso alguém reverta sua decisão você pode perder a credibilidade na análise.

Caso haja uma discordância na decisão, sem negociação amigável com seus pares, leve o caso para que seu superior arbitre, assim a decisão final será da pessoa mais sênior ou com maior salário para decisão. Meu conselho: nunca discordar de pares ou superiores na frente de terceiros, afinal roupa suja se lava em casa.

Se a sua posição for sempre a contrária de seus pares e superiores, deve se questionar se está no lugar certo, ou se está fazendo da forma certa. Eles podem estar certos e você precisa aprender, ou você pode ser o único certo e defender posições pode criar um terrível mal estar, então pode refletir se é você quem deve mudar.

Compartilhei alguns comentários mais comuns que presenciei e outros analista de crédito também. Se você tiver algum outro comentário muito ouvido por trabalhar em crédito, compartilhe!

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Entendendo o cartão de crédito.

Desejo muito escrever sobre estratégias de crédito, tanto pra auxiliar profissionais quanto pessoas que necessitam do mesmo.

Antes disso prefiro alinhar conceitos e como funciona cada um dos principais produtos de crédito assim ficará mais fácil de usá-los na estratégia. 

O cartão de crédito é atualmente o mais popular produto devido ao volume de transações que usam esse instrumento. Facilidade no uso e tempo de existência contribuem para tamanha popularidade.

Nasce em meados de 1920 nos EUA, utilizado por lojas que desejavam agradar os clientes mais especiais ofertando a possibilidade de pagarem a prazo.

Em 1950 Frank Macnamara em um Restaurante esqueceu o dinheiro e talão de cheques, foi quando percebeu que poderia criar um cartão de fidelidade para ser usado em restaurantes, na época 27 restaurantes elitizados aceitavam o seleto grupo de clientes do Tur Diners Club e filiou 200 amigos de sua rede social. 

Depois disso o clube só cresceu e durante muitos anos era um instrumento dedicado a elite, em 1968 é lançado o primeiro cartão de crédito no Brasil o Credicard, por aqui também era um produto dedicado a elite e com o passar dos anos foi se popularizando.



Como funciona?


Atualmente é um cartão de plástico em PVC que pode vir com um microchip, tarja magnética e ou um transmissor de "rádio" fugirei dos nomes técnicos.

O possuidor do cartão conhecido em inglês como "cardholder" quando deseja fazer uma compra "passa" seu cartão em uma máquina de captura, a mesma reconhece quem é o emissor do cartão, e envia uma autorização para saber se o cartão está válido e se possui limite disponível para a compra desejada, se tudo estiver ok a transação é liberada. 

Aqui faço uma pausa para detalhar um pouco mais como isso ocorre:


Cardholder => Para ser cliente de um cartão uma pessoa física ou jurídica deve procurar um emissor de cartão de crédito, que pode ser um banco ou não. Cada emissor possui uma política de credito (conjunto de regras) que pode ou não aceitar o cliente, se aprovado recebe um limite baseado em sua renda e perfil de risco, há um contrato que rege todas as regras de uso, taxas e prazos de pagamento. 

Máquina de Captura => Aqui entra uma figura chamada Adquirente (em inglês acquirer). Esse agente negocia com estabelecimentos comerciais o serviço de capturar as informações do cartão (pertencente ao cardholder) e enviar ao respectivo emissor, para que o mesmo autorize a transação. Quando você vai a um açougue e transaciona seu cartão, quem paga ao açougue é o adquirente isso ocorre também em um período aproximado de 30 dias após a transação do cartão.

O adquirente negocia com cada estabelecimento e cobra por seus serviços como taxas e condições de parcelamento e ou aluguel das máquinas de captura. 

Emissor => Esse agente tem duas funções, se relaciona com uma ou mais Bandeiras que o homologa para usar sua marca, o emissor paga a bandeira pelo direito de emitir cartões com sua marca e deve obedecer as regras da bandeira. 

Sua segunda função é emitir e se relacionar com o possuidor do cartão, sendo responsável pelo atendimento e gestão de seus produtos de crédito,

Bandeira => Responsável por cadastrar emissores, atuam como conselheiros, árbitros e fiscalizadores dos emissores, pois cada emissor tem uma "autorização" para usar sua marca, por isso fica sujeito à regras estabelecida pelas bandeiras. 

As bandeiras também tem atuação em marketing institucional e promoção para que ofertem vantagens ao cliente final, como clubes de fidelidade ou convênios de uso para vantagens em ingressos, shows e compras. 

Atuam como um "backup" na autorização das transações bem como auxiliam na proteção contra fraudes que possam ocorrer ao cliente final. 

O cliente do cartão em espaços periódicos de 30 dias recebe uma fatura com todos os gastos, com a opção de pagar totalmente ou parcialmente sua fatura.

Clientes que pagam sua fatura integralmente são conhecidos como "transactor" e clientes que pagam parcialmente são conhecidos como "revolver".

Quando o cliente não paga o mínimo estabelecido pelo emissor é considerado um cliente inadimplente, caso o cliente pague um valor maior do que sua fatura os emissores estabelecem um valor máximo para evitar lavagem de dinheiro (em um futuro post explico como isso funciona).

Como o processo na maioria das vezes envolve pagamentos periódicos de 30 dias, onde o cliente paga mensalmente sua fatura ao emissor, esse efeito dominó figura em toda cadeia, pois o emissor paga ao adquirente em 30 dias e o mesmo ocorre ao estabelecimento. 

Há mudanças, polêmicas e curiosidades nesse processo, compartilharei em publicações futuras. 

Ao possuir um cartão de crédito você contribui para a geração de muitos postos de trabalho, profissionais que atuam em emissores, adquirentes e bandeiras, trabalhando para que tudo isso ocorra. 

Parece simples o funcionamento, e para o cliente final deve ser, observe quanta coisa ocorre nos bastidores para que uma transação seja feita. 

Espero ter contribuído mais um pouquinho com seu entendimento sobre o produto cartão de crédito.