domingo, 10 de maio de 2020

O profissional de Crédito tem acesso ao Crédito?

Se eu tivesse de alterar o ditado popular: “Em casa de ferreiro o espeto é de pau” no mundo do crédito seria mais ou menos assim: 

“Em casa de analista, crédito se solicita na concorrência”. 




Trabalhei em algumas instituições financeiras e em teoria os funcionários deveriam ter mais benefícios no acesso ao crédito certo? Na vida real a coisa não é bem assim, dependendo do produto de crédito muitos colaboradores encontram na concorrência mais benefícios do que toma-lo na própria instituição em que trabalham.

Isso pode ocorrer por vários motivos, entre eles: 

  • Preço, buscar crédito na concorrência pode ser mais vantajoso financeiramente do que na própria instituição.
  • Qualidade do serviço, em uma instituição para qual trabalhei tínhamos o convênio da conta salário com um banco público, o serviço era tão ruim que todos na minha área preferiam pagar do próprio bolso a taxa de manutenção de um banco privado, a sofrer com o excesso de burocracia do banco conveniado.
  • Privacidade, muitos profissionais se sentem melhor em relação a sua privacidade se relacionando com a concorrência do que com sua própria instituição.
  • Excesso de Burocracia, alguns processos são tão burocráticos que mesmo para seus colaboradores, o acesso é um martírio, em mais de uma instituição que trabalhei para contratar um produto de crédito o gerente da minha conta solicitava meu comprovante de renda, eu pensava: “como é possível que me peçam isso, se eu trabalho aqui?”.  As vezes a burocracia é tanta que imaginamos: Se está ruim pra mim que sou funcionário, imagina para o cliente?. 

Quando o profissional da área fica restrito a crédito?


Caso a renda seja baixa, ficam limitados as linhas discretas e produtos pouco competitivos, pois sua capacidade de comprometimento de renda é modesto, muitas vezes o acesso a produtos de financiamento e valores expressivos ficam fora de cogitação (sim isso ocorre com profissionais de crédito, afinal somo pessoas normais).

Quando possui apontamentos negativos nos Bureaus de crédito isso também restringe o profissional, aqui vale uma observação importante: muitas empresas avaliam esse item no momento de contratação, caso o candidato tenha algum apontamento isso pode impedir sua contratação, se o processo de apontamento negativo vier após a contratação, o mesmo pode ser notificado para imediata regularização com o risco de demissão em alguns casos.

Reflexão: Como justificar que o responsável por negar clientes por motivo de restritivos negativos, seja uma pessoa infestada dos mesmos? É esperado do profissional que trabalha com análise de risco de crédito, que o mesmo seja um exemplo de bom comportamento e assiduidade financeira. 

Muitas empresas recentes no mercado de crédito não seguem essa diretriz e pouco acompanham a saúde financeira ou o risco de crédito de seus próprios colaboradores. Não posso apontar o que seja certo o errado, apenas coloco um panorama do cotidiano dessa área.

Buscando por crédito.

Nos tempos antes do COVID-19 eu era impactado em todas as redes sociais (exceto LinkedIn) para tomar crédito nos mais variados agentes, a grande maioria formada de novas Fintechs, bem resolvi preencher o cadastro em todas para entender o que estão fazendo como análise inicial (vai que posso copiar alguma boa prática).

Consulta ao SCR

SCR é o Sistema de Informações de Crédito gerido pelo Banco Central, nesse sistema todas as operações de crédito acima de R$200,00 no Brasil são registradas no banco de dados do SCR alimentado mensalmente pelas instituições financeiras.



São registrados 

- empréstimos e financiamentos;
- adiantamentos;
- operações de arrendamento mercantil;
- coobrigações e garantias prestadas;
- compromissos de crédito não canceláveis;
- operações baixadas como prejuízo e créditos contratados com recursos a liberar;
- demais operações que impliquem risco de crédito;
- operações de crédito que tenham sido objeto de negociação com retenção substancial de riscos e de benefícios ou de controle;
- operações com instrumentos de pagamento pós-pagos; e
- outras operações ou contratos com características de crédito reconhecidas pelo BC.


Para ter acesso a essas informações apenas o próprio dono da informação ou alguma instituição expressamente autorizado pelo dono dessa informação, caso qualquer pessoa ou empresa que consulte sem a devida autorização pode ter seu acesso punido pelo BACEN, como a consulta é mais barata que os maioria dos Bureaus, alguns profissionais de crédito usam essas informações para realizar análises primárias. 

Observei muitas áreas inexperientes com essas informações chegando a conclusões erradas afetando o poder de análise, não basta apenas o acesso é importante saber analisar os dados presentes bem como a periodicidade correta, que varia de acordo com cada produto de crédito, muitos acreditam que usar uma janela maior de informações a análise terá mais qualidade, algo que não é uma verdade para todos os casos.


Cadastro

Anos atrás num banco em que trabalhei, cheguei a uma reunião onde meu chefe estava em uma discussão acalorada com o time de marketing, a divergência era o cadastro do cliente, o time de marketing alegava que era muito grande e que afastava o cliente de nossa empresa, meu chefe argumentava que era necessário para nos proteger de riscos além de ser uma exigência do órgão regulador.

Eu não peguei a primeira parte da discussão e meu chefe sem combinar nada comigo solta: “Samir, diga em alto e bom tom pra todos na sala ouvirem o motivo de solicitarmos a data de expedição do RG do cliente!”

Inocente, fiz a cagada de responder: “Não usamos para nada, aliás, por mim é uma das muitas coisas que devíamos cortar, nosso cadastro é muito grande, o cliente que preenche tudo aquilo, ou realmente quer crédito ou não tem mais o que fazer”

Bem vocês devem imaginar a comida de toco que levei né?

Há muito tempo temos um burocracia na processo cadastral, em parte devido as muitas fraudes tomadas pelo mercado, em outra parte somos burocráticos como uma forma de proteger a ineficiência, há coisas regulatórias e não se pode mudar, as demais vale adequar para o canal, perfil do público e tipo do produto.

Veja que nas imagens que compartilho, o agente solicita como campo obrigatório o telefone residencial, poxa estamos em 2020 ter telefone residência em casa é uma baita ineficiência. 

Outra coisa importante digam para a área de TI permitir que e-mails com sufixo diferente de .com e .com.br são e-mails válidos, um dos meus e-mails de cadastro é .tur  nem por reza brava o sistema me deixou prosseguir, acabei desistindo.




Boas práticas

Nem tudo são notícias ruins, vi uma prática bem legal que vale adotar, a “gameficação” das resposta, fazendo com que o processo seja prazeroso e que mais informações do cliente sejam validadas de forma inteligente bem como a captura de perfis e hábitos de consumo que auxiliem na análise do solicitante.





Risco 

Realizar uma negativa, com avaliação automática do cliente e envio do produto para a casa do mesmo em uma outra solicitação na minha opinião é muita ineficiência de avaliação de risco, além de se abrir a possibilidade do cliente recusar o produto, engavetamento-lo pois quando o mesmo necessitou o crédito pisou na bola com o cliente, ou pior o mesmo pode alegar que não solicitou, caso não haja provas concretas que o mesmo o fez a empresa pode levar uma ação judicial contra a companhia por venda forçada e envio de produto não solicitado.




Portanto eu sugiro que se faça uma análise eficiente e decida; ou assume o risco ou nega o cliente de cara, ficar nessa de PMDB no mundo do crédito para depois voltar atrás pode ser uma estratégia muita arriscada.

Final da Saga

Bom a minha odisseia (se não leu o livro recomendo) pelo solicitação de crédito chegava ao fim com o seguinte saldo: 

60% de todas as propostas que preenchi nas novas Fintechs foram recusadas, uma delas levou 4 meses sem nenhuma resposta, após 4 meses me ligaram pra dizer “Ei você foi aprovado” pedimos desculpas pela demora (4 MESES) e vamos enviar o cartão pra sua casa. Demorou mais 1 mês, eu peguei o cartão e joguei na gaveta do esquecimento eterno.

Os outros 40% que me aprovaram ou entregaram um produto diferente do simulado, ou a taxa estava fora da órbita. 

Resolvi abandonar as empresas de crédito formada por Veganos de Coque e fui ao meu velho, burocrático e empoeirado banco do qual sou cliente há algumas décadas, onde nunca tive nenhum apontamento de atraso, tenho investimentos e um largo histórico de bom comportamento, simular a solicitação de um produto de crédito (vejam a resposta abaixo).




A conclusão da minha epopéia? GRAÇAS A TUPÃ, NÃO PRECISO DE CRÉDITO. E saiba você que nós, profissionais do crédito passamos pelos mesmo problemas que todo mundo, inclusive falta de crédito.


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