domingo, 26 de abril de 2020

Como reconhecer um Especialista em Crédito?

O título desse artigo deveria ser: Como reconhecer um especialista de qualquer área? Faz tempo que essa palavra “especialista” me incomoda eis aqui os motivos:



a) Qual a formação académica deve ter um especialista em crédito? Por acaso há alguma ciência acadêmica que forme especialistas nessa área?, talvez uma prova ou uma régua que diga: Desse ponto em diante você é um especialista. 
b) Repare as matérias de jornais e sites de notícias quando há um tema sobre crédito, você lerá mais ou menos assim: “especialistas na área isso”, “especialista no setor aquilo”, “especialistas dizem que…” 

Parece que jornalistas tentam aplicar uma credibilidade incontestável e abusam do termo especialista, ao final  a pergunta que fica é; Na conjugação verbal especialista é um sujeito indeterminado, ou seria oculto?

Estou preparando um material sobre minha experiencia com solicitações de crédito em várias fontes que me impactaram com propagandas, preenchi meu cadastro em mais de 20 novas empresas de crédito pra testar seus processos, em praticamente todas o site cita: “Nossos especialista em crédito…” dependendo do tipo de crédito e da finalidade os tais “especialistas” me ligaram, usando palavras joviais e uma conversa moderna com bastante informalidade, algo realmente prazeroso mas na hora de informar as características dos produtos, seu funcionamento e juros... alguns até gaguejaram, pena eu não poder compartilhar os áudios (risos).

Segundo o dicionário: Especialista é um adjetivo a quem se dedica exclusivamente ao estudo ou à prática de uma ciência, uma arte, uma profissão, um perito, profissional ou técnico. Com essa definição qualquer um que trabalhe em crédito, não importa a experiencia pode ser um especialista certo?

Parece haver um número muito grande de Especialistas em crédito, a maioria se auto-intitula Especialista, então como reconhecer um?

Anos atrás eu estava com meu primeiro chefe no mundo do crédito, feliz e motivado naquele dia tivemos a seguinte conversa: 

- Somos especialista em crédito por isso batemos a meta! - Disse eu.
- Meu chefe olha pra esquerda, olha pra direita como se procura-se algo. Eu perguntei: O que está procurando?
- Os especialistas respondeu ele. Surpreso eu disse: Nós é claro!
- Ele olhou pra mim por alguns segundos e respondeu: Trabalho nesse mercado há 15 anos, eu lhe ensinei o que até agora você sabe sobre crédito, eu não sou um especialista, o que faz você acreditar que seja um?  

Mano do céu, confesso que foi um banho de água fria, comecei a gaguejar e tentei justificar: Todos que tem dúvidas do crédito, ou para aprovação de crédito recorrem a nós, somos a referência aqui não? 

Não - Respondeu ele, e continuou, você acredita ser especialista  por que conhece um pouco mais que os demais e só conhece um pouco de um único produto, por acaso domina como fazemos a PDD desse produto? 

Respondi: Ainda não mas… antes que eu terminasse ele emendou: Por acaso conhece crédito agrário?

Não, respondi - antes que eu pudesse respirar ele arremessa uma saraivada de questões: E crédito imobiliário? Crédito para Empresas? Automóveis? Consignado? 

Eu estava sendo nocauteado pelo meu chefe e na lona tentei: Calma eu ainda não conheço, vou aprender, vai ver!

Por um instante ele parou de me bater e disse: Perfeito, depois que aprender tudo isso em que ponto acredita que será de fato um Especialista em Crédito? 

Porra quela pergunta era pra me enterrar de vez; fiquei em silêncio eu não tinha resposta para aquela pergunta. Ao perceber o silêncio meu chefe esboçou um sorriso e saiu. 

Cara eu não sabia se queria joga-lo pela janela ou me atirar, pensei: “que FDP”, fiquei bem puto da vida principalmente por ele tinha razão qual era o auge de conhecimento necessário em crédito para que fosse considerado um especialista?

Anos depois fui trabalhar para um grande banco com o cargo de Especialista de Crédito, sim isso escrito na carteira de trabalho, pensei agora sim tenho provas irrefutáveis que sou um especialista, vou ligar para meu antigo chefe e dizer a ele, óbvio que meu juízo falou mais alto e fiquei calado, pois com o passar do tempo entendi que cargos não significam conhecimento, vi muitos estagiários mostrarem mais conhecimento e maturidade que muitos gestores.

Esse episódio com meu ex-chefe tem mais de 20 anos, nesse período eu coletei mais experiência do que tinha naquela época, toda vez que acredito ser um especialista surge alguma questão nova, algo que ainda não sei ou não vi e quando tenho dúvidas a quem eu recorro? 

Sim, aquele primeiro chefe até hoje é a minha referência no assunto, mesmo tanto tempo depois, não sendo mais seu subordinado e passado por várias situações não tenho coragem de me auto intitular um Especialista.

Como reconhecer um? Não tenho a menor ideia.





terça-feira, 21 de abril de 2020

Matemáticas do Crédito: Crescimento Exponencial


É sempre bom alinhar velhos e simples conceitos, afinal é neles em que mais pecamos.

O assunto infelizmente corrobora com o atual problema pandêmico de COVID-19 em evidência, falamos de curva exponencial, será que essa curva é clara para todos analista de crédito?  

Segundo Al Barlett (1923 - 2013) professor de física da universidade do Colorado “A maior falha da raça humana é a incapacidade de entender a função exponencial”. 

Segundo esse que vos escreve “A maior falha dos analistas de crédito é a incapacidade de usar a regra de três” acredite em mim, é o cálculo mais importante para se dominar quando se trabalha em análise de risco de crédito, mas falaremos desse tema em outra oportunidade

Vamos começar como uma curva simples com elevação controlada, suave que chamamos de linear, é o tipo de crescimento a qual estamos mais habituados vamos imaginar que surjam 2 solicitações de análise de credito por dia, a relação matemática entre TEMPO e SOLICITAÇÕES chamamos de função, nesse caso uma função linear onde o numero de solicitações sempre será calculada por 2.

Observe como fica a curva de um crescimento linear e solicitações de crédito.



No mundo dos negócios não só dos profissionais de crédito se susterá, há também uma raça de profissionais estranhos que pertencem a área comercial, sei lá porque cargas d’água eles não se contentam com crescimento linear, querem sempre vender mais e rápido, e para isso a função se altera para algo mais inclinado, chamamos essa inclinação maior e em menos tempo de função quadrática, quando comparamos essa nova função com a anterior temos o seguinte:

No dia 0 teríamos 0 propostas para analisar No dia 1 teríamos 1²=1×1=1 propostas para analisar
No dia 2 teríamos 2²= 2×2=4 proposta para analisar
No dia 3 teríamos 3²=3×3=9 proposta para analisar

No dia 10 teríamos 10²=10×10=100 proposta para analisar, viu como cresce em ordem maior do que na função linear? Ao fazermos uma curva comparativa fica mais ou menos assim:



Se você for do time de crédito de algum insano que deseja o impossível, ter o maior crescimento de aprovações de crédito no menor tempo, então meu amigo lhe apresento a função exponencial, para elevar a curva o que se altera na função é o expoente.


O que isso quer dizer?

No mesmo tempo que os exemplos anteriores a curva tem o seguinte comportamento de cálculo, imagine que tenhamos uma base 2, ficaria mais ou menos assim:

No dia 0 teríamos 2⁰ = 1 propostas para analisar No dia 1 teríamos 2¹ = 2 propostas para analisar
No dia 2 teríamos 2²= 2×2=4 propostas para analisar
No dia 3 teríamos 2³=2×2×2=8 propostas para analisar

No dia 10 teríamos 2¹⁰ =2×2×2×2×2×2×2×2×2×2 = 1.024 propostas para analisar, aqui da pode observar que tem elevação muito superior as curvas linear e quadrática, logo nossa representação ficaria assim:



Por quê o Crédito deve conhecer essas funções?

São importantes no entendimento do comportamento das carteira de crédito frente a situações como: Estratégias de Vendas, Contaminação do mercado, impacto de PDD, exposição ao risco e a muitos tipos de indicadores que ajudam a entender cada comportamento e com ele preparar táticas defensivas ou ofensivas.

Da mesma forma que os setores de saúde, ao saber o volume possível de problemas conseguem definir qual a melhor tática de atendimento hospitalar, no nosso caso cada tática pode ser suportada pelos números desses gráficos. 

Se gostou do assunto e tem pouco domínio, pesquise mais e saiba como usar, implantar e monitorar esses indicadores para o acompanhamento de suas estratégias e políticas de crédito.



domingo, 5 de abril de 2020

5 filmes sobre Crédito


Um dos meus passatempos é assistir filmes, apesar de ser pouco culto para alguns tipos considerados “cult”, me esforcei para achar 5 filmes sobre crédito e… NÃO ACHEI um que fosse focado em nossa profissão, por isso cito os filmes que possuem cenas muito familiares a quem tem o crédito como profissão. Aqui vão:

1 - Sentença de Morte




No início do filme, Nick Hume que é vice-presidente de uma companhia de seguros, pergunta a um dos colaboradores, qual melhor perfil de risco de nossos clientes?

O colaborador responde: Acima de 30, casado, com 2 filhos e um cachorro…

Nesse momento Nick olha para foto em cima de sua mesa e vê sua família igual ao descrito pelo colaborador, a companhia de seguros sabe que esse perfil de cliente tem a vida mais estável, não se expõe ao risco, tanto com seus bens quanto com seu comportamento, um ótimo perfil para o mercado de seguros.

Eae alguma relação com o mundo dos modelos estatísticos do crédito?



2 - Sim Senhor



O filme fala da vida de Carl Allen um homem que diz “NÃO” a tudo. Sempre que é convidado para algo por algum amigo, ele nega, geralmente inventando uma desculpa para não fazê-lo, e não é só isso que ele nega, Carl é um analista de crédito que nega várias propostas de clientes que apresentam o mínimo de risco.

Um dia ele se inscreve num programa de auto-ajuda com base no princípio simples: dizer “SIM” a tudo e a qualquer coisa… aprova inúmeras solicitações de crédito, para supresa de seus superiores, os crédito aprovados apresentam uma inadimplência baixa algo que serve para que seja promovido.

Um dos créditos aprovados foi para que um conhecido pudesse comprar uma super moto, algo que terá conexão com o restante do enredo.


Obs: Não saia aprovando tudo depois desse filme ok?


3 - Animais Fantásticos e Onde Habitam



Nessa trama o personagem principal se encontra acidentalmente com Jacob Kowalski em um banco, onde este procura a instituição para obter um empréstimo com objetivo de montar seu próprio negócio, o gerente do banco faz algumas perguntas e ao final… bem deixo você assistir.  


Obs: Em outras publicações ja citei a importância da responsabilidade que os profissionais de crédito tem sobre transformar a vida das pessoas e das empresas, então não se esqueça disso.


4 - Fome de poder


O filme narra a ascensão do McDonald`s, a personagem principal Ray Kro em um dado momento do filme precisa de crédito para alavancar o negócio, e vai a várias instituições que já o conhecem por terem concedido crédito a ele em outros projetos que faliram.

Esse histórico faz com que a decisão dos responsáveis por conceder o crédito seja de…. bem, vale muito a pena assistirem o filme.



5 - Os Incríveis 2


Separei no link do trailer, a melhor parte (na minha opinião) para expressar o que muitas vezes já aconteceu comigo.

Para auxiliar clientes que necessitavam de crédito, algumas burocracias devem ser vencidas por pessoas que realmente tem vontade de fazer acontecer, porém essa vontade nem sempre é compartilhada por toda a empresa, já fui punido igual ao Beto por mostrar os caminhos aos clientes, sei de muitos colegas de profissão que sofreram severas punições por atender o que seria melhor para o cliente, algo que nem sempre se encaixa com o apetite das corporações.

Assista, quem sabe esse episódio já tenha acontecido com você.


Obs: É interessante como o mundo dos seguros tem um grande paralelo com o mundo do crédito, ambos analisam risco.

Compre sua pipoca e bons filmes

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Estratégias de crédito em tempos de COVID-19

Vimos em tempo recorde uma realidade totalmente diferente da expectativa de negócios, crescimento econômico e crédito de 2020, um vírus do outro lado do oceano causou o fechamento de negócios, temores do mercado e por consequência revisão de crescimento de nações.

O término da “Corona-Crise” é INDETERMINADO, teremos pela frente dias, semanas ou meses até o princípio do fim, podemos marcar esse princípio com o retorno das pessoas às ruas bem como a reabertura de escolas e negócios, pelo menos o que sobrar deles.



Qual o papel do crédito nesse cenário inédito?


Para facilitar o raciocínio vamos dividir o processo de crédito em duas partes.

Concessão de crédito durante a crise.

Ao buscamos crises paralelas para traçar em qual linha o crédito deve seguir vale recordar as atuações em crises passadas.

Crise dos Tigres asiáticos - 1997 
Um crise financeira causada pela desvalorização cambial que progrediu para uma crise econômica que arrastou diversos países.

Crise Russa - 1998 
Aqui também um crise financeira que se traduziu em contaminação em vários outros países.

Crise Cambial - 1999
Forte desvalorização do real cria um tumulto em acordos e contratos firmados em moeda estrangeira, trazendo a bancarrota bancos empresas e pessoas físicas.

Crise Subprime - 2008
Abalo no sistema imobiliário americano com elevação da inadimplência, contagiando instituições financeiras gigantescas e algumas com décadas de funcionamento, mercados sólidos implodiram em dias, no Brasil de forma indireta também sacudiu o mercado financeiro, gerando fusões e o desaparecimento de instituições.

Além das crises geradas por influência externa, há fatores políticos internos que afetam diretamente o cenário econômico, fazendo com que ao longo do tempo profissionais de crédito mudem suas estratégias orientados a resultado e ou sobrevivência do próprio crédito.

A escola clássica do risco de crédito diz que temos de preservar a coisa mais importante no tabuleiro, os recebíveis, indiscutivelmente a coisa mais importante do negócio de crédito são os valores emprestados a receber, portanto em tempos de crise a escola clássica se fecha e fica restritiva, pois pessoas em empresas terão dificuldades para honrar seus compromissos logo colocam em risco a capacidade de recebermos, por isso é comum em tempos de crise os times de crédito fecharem as portas, elevarmos as taxas como forma de restringir o acesso ao crédito ou torna-lo mais caro frente ao cenário de crise.

O ineditismo dessa crise não teve seu estopim em um problema financeiro e sim na saúde pública, o caos desse estopim culminou em estabelecimentos comerciais fechados, milhares de trabalhadores estão paralisados, a economia esfriou drasticamente, colocando em risco os pagamentos futuros, com o risco de demissões em massa, poucas empresas tem caixa que possa suportar mais de 90 dias, outras nem mesmo 1 semana, sem entrada de receita para cumprir seus pagamento incluindo folha de pagamento a decisão será corte geral, empresas menores serão varridas.

Essa possibilidade fez com que alguns dos agentes financeiros divulgassem a possibilidade de postergar os recebíveis de curto prazo (financiados) para 60 dias (tempo inicial previsto para retorno das atividade econômicas) dos clientes em dia, sem cobrança adicional de juros permitindo fôlego à pessoas físicas (não deixaram claro as regras para PJ).

Impactos: Grande parte dos sistemas não estão preparados para aceitar o processo de postergar sem inclusão de juros, vai além, muitos processos de crédito só permitem alterar caso o cliente entre em atraso (algo para outro artigo).

Outro impacto importante é a PDD, todo processo de provisão não importa de 2682 ou IFRS9 ficarão uma bagunça e na real acredito que se posicionar em 2682 será a melhor coisa.

Ao anunciar tal decisão os agentes não conseguiram absorver o volume de solicitações gerando desgaste com seus clientes, além disso diversas fontes de notícias publicaram que houve restrição e elevação nas taxas, algo que pode inflar a opinião pública contra os agentes.



Executar o manual da escola clássica, é mais fácil, tem resultado conhecido de crises passadas, é algo ortodoxo, e praticamente não se usa as milhares de simulações de stress teste com gatilhos preparados pelos times de riscos, nesse momento a ortodoxia e o conhecimento de causa falam mais alto e tem resultados conhecidos. 

O estopim é inédito por isso todas as previsões são frágeis, só temos uma certeza: o tempo ruim vai passar, quando tudo isso acabar o cliente que teve uma mão amiga do crédito vai se lembrar, assim como o cliente punido pelo crédito TAMBÉM se lembrará e garanto, o cliente não perdoa.

Como fugir da estratégia ortodoxa?

Em tempos de crise se as torneiras do crédito não fecharem, os impactos com inadimplência, PDD e perdas de crédito irão a valores astronômicos, algo que coloca em risco o próprio funcionamento do crédito, já passei por situações onde a ordem era negar e paralisar a esteira do crédito, pois o nível de perdas geravam valor negativo, por isso era melhor parar de emprestar.

Como o cenário é indeterminado muitos pequenos agentes tomaram essa decisão, fechar as portas da aprovação até que a chuva passe e sinalize algum raio de sol. Pensar fora da caixa da estratégia ortodoxa pode ser mal visto por líderes de crédito experientes e até por seus pares, portanto agir fora da estratégia ortodoxa requer tato e muito apoio político, que deve vir de cima, caso não tenha apadrinhamento político nem ouse sugerir saídas fora do “by the book”

Se houver patrocínio de “cima” é uma oportunidade de aplicar estratégias desafiantes de crédito para públicos com maior risco e mesma taxa, aprovando clientes em um cenário que geralmente não se aprovaria, levando em conta o efeito “Corona-crise” selecionar um público controlado é uma oportunidade de ouro para testar políticas de crédito flexíveis.

Resumo: abrir a cabeça para aprovar clientes abaixo do padrão, em volume suficiente que permita criar acompanhamentos e que sejam estatisticamente representativos para promover alteração da política inteira.

Algo que vi fora do processo ortodoxo foi: agentes que elevaram para 100% dos clientes de cartão de crédito, 10% de seu limite, de forma voluntária em plena crise. Um baita impacto positivo para o marketing junto ao cliente, uma oportunidade de ser bem visto 

Sob o aspecto de risco acredito que há oportunidade de fazer melhor, o fato de elevar em 10% todos os limite há 2 impactos ruins como:

  • Elevação de capital alocado.
  • Elevação do total de exposição (caso todos os cliente usem 100% do limite).

Como poderia ser?: Pré aprovar elevação de 10% do limite para 100% dos clientes, efetivado sob solicitação do cliente, com isso geraria o mesmo impacto positivo, sem ferir o volume de capital alocado e total de exposição. (É uma da formas de ser, há várias).


Concessão Pós Crise.

Recebi de várias pessoas as mesma pergunta, o processo de concessão vai alterar depois da crise? A resposta é SIM, o cenário é o seguinte, todos os estabelecimentos comerciais estão fechados e continuarão por tempo INDETERMINADO, é uma questão de tempo vermos explodir o volume de CNPJ`s com restritivos nos bureaus de crédito, se a situação não for solucionada no curto prazo logo teremos demissões em massa, elevação de desemprego reflete na pontualidade e inadimplência da PF.

O cenário geral indica que teremos alterações na pontualidade de pagamento e inadimplência, tudo isso trás reflexo no Score de propensão à inadimplência, todos as esteiras ou políticas terão de fazer revisões, quer seja para aproveitar a explosão de solicitações de crédito ou para frear o volume concedido, ou mesmo rentabilizar melhor seu produtos frente a um novo patamar de risco.

O crédito será a chave para salvar e recuperar negócios e consumidores, como conceder da melhor forma?, quais os fatores que indicarão oportunidades ou elevação de risco e perdas de crédito? Uma nova forma de pensar o modelo de crédito será necessária, na verdade já estava atrasada, a crise apenas cria o cenário para acelerar algo que o mercado de crédito deveria ter modernizado.

Um novo olhar para inadimplência.

O times de crédito devem ponderar: um cliente inadimplente a um determinado crédito ou pagamento, é inadimplente a todos? Com certeza não! 

Muitas vezes o cliente está em um cenário de escolhas, onde deve escolher quais contas ou não pagar, por isso os compromissos que forem de maior necessidade haverá ADIMPLÊNCIA. 

Há um livro chamado “Como empreender certo em um país incerto” onde narra passagens de vários empreendedores brasileiros, em uma das passagens narra um empreendedor dizendo: 

“Certos dias eu chegava em casa e tinha de escolher se pagava minha conta de luz ou da empresa, hoje somos o Boticário”

Veja que muitas vezes o cliente PJ ou PF precisa fazer escolhas, e na escolha de não pagar determinadas contas ou serviços é penalizado por todo o mercado, o processo de crédito clássico não leva isso em consideração, separar o tipo de crédito qual o cliente será adimplente é uma grande oportunidade, e momento mais propício do que a "Corona-crise", desconheço.

Outro fator ignorado pelos analistas de crédito é poder avaliar a capacidade de renda do tomador, por vezes testamos dezenas de modelos de renda presumida e todos fracassaram, atualmente há empresas que possuem tecnologia para que possa analisar a conta corrente do cliente, promovendo análises de avaliação de renda precisas e ricas, muito melhor do que o velho e batido histórico de pagamentos.

Se funciona? Precisa testar, testar e testar, abraçar a oportunidade de fazer uma revolução na avaliação do risco de crédito nesse novo cenário determinará quais estratégias e profissionais serão bem sucedidos nos próximos 24 meses, portanto o momento de criar novas políticas e testes é agora.

A idade máxima e mínima podem ser revistas.

Uma das situações que barram processos de crédito e seguros é a questão da idade, os ABCs do crédito citam um capitulo exclusivo para concessão de crédito em uma faixa de idade de 18 à 80 anos.

O piso da idade ocorre devido a responsabilidade civil, o teto é o risco de morte do tomador, mas aqui deixo um ponto para pensar em heterodoxia, os jovens masculinos no ano em que completam maioridade (18 anos) devem obrigatoriamente se alistar nas forças armadas, em caso de conflito podem entregar suas vidas pelo soberania da nação, mas não podem tomar crédito? Quantas oportunidade podem ser geradas por essa flexibilização?

Quando fiz 16 anos (já trabalhava desde os 14 anos) surgiu uma oportunidade profissional onde só seria aproveitada por um CNPJ, pesquisei como obter um e fui barrado na lei de maioridade, porém havia uma excessão, ser legalmente emancipado, onde a partir dessa idade eu seria plenamente responsável pelos meus atos civis e criminais, trata-se de um documento público firmado pelos pais e responsáveis, com esse documento eu poderia constituir um CNPJ, uma burocracia que acompanha sua certidão de nascimento, que custava uma fábula na época para fazer e até hoje quando tenho de tirar uma nova cópia da certidão eu pago mais caro pelo adicional da emancipação que fiz aos 16 anos.

Jovens emancipados podem ser responsabilizados, civil e criminalmente, podem constituir CNPJ e gerar empregos, mas não podem ter crédito?

Para idade máxima, vamos lembrar que nos anos 40 a expectativa média de vida no Brasil era de 45 anos, hoje segundo o IBGE é pouco mais de 75 anos, imagine se as políticas de crédito não tivessem se modernizado e estabelecessem o teto de 45 até hoje, perderíamos clientes com décadas produtivas por causa de uma regra de risco. 

Agora pergunto: o cliente que mora no Leblon-RJ tem a expectativa média de vida igual ao cliente de Paralheiros-SP? 

Quando colocamos uma lupa na expectativa média de vida por localidade há uma grande variação entre regiões e classe social, muitos clientes ultrapassam os 90 anos de idade (plenamente produtivos) será que não estamos perdendo uma década ou mais de clientes plenamente capazes de tomar crédito?  

Ser pioneiro tem o pagamento doloroso do pioneirismo, mas nada disso se compara a certeza de propor ao mercado algo realmente inovador e rentável, se a crise não dá trégua, nós do crédito não poderemos ter preguiça! 

Bora arregaçar as mangas e trabalhar, afinal o crédito será a solução de resgate e a volta por cima da “Corona-Crise”.