Para alinharmos o conceito: Bula é o nome que se dá ao conjunto de informações sobre um medicamento que obrigatoriamente os laboratórios farmacêuticos devem acrescentar à embalagem de seus produtos vendidos no varejo. As informações podem ser direcionadas aos usuários dos medicamentos, aos profissionais de saúde ou a ambos.
Já reparou que a maioria das ofertas de crédito não cita a finalidade, a forma de usar e as precauções? Se cada linha de crédito tivesse a obrigatoriedade do BACEN de incluir um conjunto de informações semelhantes ao que há nas bulas de medicamento, contendo as indicações, contra-indicações, efeitos e o que fazer quando alguns sintomas surgirem, será que seríamos mais transparentes e honestos com o cliente final?
Tomo a liberdade de fazer uma bula para algumas linhas de crédito, confesso que essa informação é para mim mesmo, deixo escrito uma “documentação” para consultas rápidas, caso queira usar fique a vontade.
Um segundo alinhamento sobre linhas de crédito temos basicamente 2 tipos:
- Financiamento onde o valor tem uma finalidade definida como a compra de bens (Imóveis, Automotivos, Máquinas, Embarcações) ou projetos como infra-estrutura ou aquisição de terrenos.
Financiamentos são considerados Crédito com Garantia, em caso de não pagamento o bem financiado pode ser
usado para venda e assim quitar a dívida do tomador com a instituição financiadora, nesse ponto a garantia é classificada como:
a. Garantia Real (através de alienação fiduciária) que garante a propriedade do bem a instituição financiadora.
b. Garantia “não” real onde o bem é um indicador de que o cliente poderá honrar a dívida com base no mesmo, porém com risco de não conseguir tomar o bem de fato, por não haver a propriedade ou por não
conseguir resgatar o mesmo. Ex: O financiamento de um guindaste, como a instituição fará a recuperação, onde o guardará em caso de inadimplência?
2. Crédito para qualquer finalidade, onde o dinheiro não tem um objetivo definido (consumo, ordenação de dívidas, criação de empresas ou pagamento de bens e serviços).
Dado que separamos esses dois macro grupos de linhas de crédito vamos a nossa Bula para cada um deles.
FI (financiamento de imóveis).
Pra quem é indicado: Pessoas interessadas em financiar moradia própria e investidores do setor imobiliário.
Como funciona: Há 2 tipos de sistemas:
- SFH (sistema financeiro habitacional) onde o imóvel deve se enquadrar com o valor máximo de R$1,5MM, o financiamento não pode exceder a 80%, ser residencial, urbano e localizado onde contratante trabalha a pelo menos 1 ano, com isso pode usar recursos do FGTS (em outro post podemos explorar melhor), prazo máximo de 35 anos.
- SFI (sistema financeiro imobiliário), no primeiro De forma resumida os demais enquadramentos são atendidos pelo SFI, onde a fonte de financiamento não provém dos fundo de poupança e o mercado tem livre atuação para práticas de juros compatíveis ao apetite de risco. Nessa modalidade não se pode usar o FGTS.
Quando não deve ser usado: Se houver dúvidas sobre a capacidade de pagamento no curto prazo, em detrimento de demissão, risco de perda da capacidade de renda, se houver restritivos nos bureaus de crédito ou em dívidas com a união.
O que devo saber antes de usar: É um produto com Alienação Fiduciária, não honrar suas parcelas ainda que justificáveis por questões de força maior, há o risco de ter o bem tomado pela instituição financiadora, o processo é relativamente rápido então é necessário planejamento e disciplina. Há custos de avaliação do imóvel, registros e documentos que devem ser considerados.
Financiamento de automotivos.
Pra quem é indicado: Aquisição de veículo automotores (carros, motos, máquinas, ônibus e caminhões).
Como funciona: Cada categoria tem regras próprias, as mais comuns são idade do bem, tipo, modelo e documentação em ordem há políticas que não cobrem 100% dos automotivos.
Quando não deve ser usado: Se não houver uma entrada entre 30% e 50% ficará sujeito a negociações pouco vantajosas.
O que devo saber antes de usar: Em muitos casos é um produto com Alienação Fiduciária, não honrar suas parcelas terá o bem tomado pela instituição financiadora, assim como o imobiliário, há custos de registro, documentação e taxas, onde o tomador deve avaliar com cuidado para melhor planejamento.
Empréstimo
Pra quem é indicado: Situações não planejadas como saúde (medicamentos, internações e acidentes), emergências, falta de fluxo financeiro pontual.
Como funciona: Limites pré aprovados que ficam a disposição do tomador no caso dos Bancos, ou limites que podem ser aprovados com agilidade e com taxas menores nas fintechs (desde que esteja com um bom score de crédito e sem restrição nos bureaus de crédito. Tem por característica velocidade na aprovação.
Quando não deve ser usado: Em recorrência, por ser um crédito destinado a questões pontuais fazer o uso recorrente é algo que pode custar caro ao tomador, a necessidade de um crédito que se prolongue por mais de 90 dias requer outra linha, fuja do empréstimo.
O que devo saber antes de usar: No Brasil mesmo com a nova concorrência das Fintechs não é uma linha barata, por isso pesquise a melhor opção, não usar por mais de 90 dias e não buscar novas linhas de empréstimo quando houver uma ativa.
Cartão de Crédito
Pra quem é indicado: Consumo (restaurantes, postos de gasolina, serviços de assinatura, locação de veículos, viagens, turismo e entretenimento, vestuário e serviços de uso recorrente como: transporte de aplicativo, delivery e serviços de streaming).
Como funciona: O tomador aprovado na política de crédito recebe um plástico que lhe permite realizar compras de consumo acima mencionados, tem em média 07 dias antes do vencimento o corte de sua fatura com todos os gastos, o tomador de a opção de honrar a fatura 100% ou paga-la parcialmente, cada instituição estabelece um percentual de pagamento mínimo, o processo não pode ser recorrente por mais de 2 vezes por limitação de regulamentação, evitando altos níveis de endividamento, se o cliente não puder honrar a dívida total a instituição deve promover o parcelamento e o crédito só será liberado quando o acordo for cumprido.
Quando não deve ser usado: Caso não consiga pagar a fatura total, se livre dos cartões (destrua-os), se outras formas de pagamento ofertarem desconto maior, pagamento parcelado (crie o hábito de pagar a vista ainda que seja no cartão), pessoas com alto nível de consumo devem deixa-lo em casa, só saindo com o mesmo quando houver uma compra, uma vez realizada manter fora de alcance (muita compras desnecessárias seriam evitadas).Não usar para pagamento de dívidas como boletos de contas, há taxas elevadas e nem sempre o processo de programa de milhas vale para essa situação.
O que devo saber antes de usar: É uma das linhas de crédito mais caras do país, responsável por um alto percentual de negativações juntos aos bureaus de crédito, tenha o hábito de não comprar parcelado, e somente para o consumo onde outro meio de pagamento não for mais vantajoso em descontos.
Crédito Consignado
Pra quem é indicado: Assalariados em regime CLT, para comprometimento que não ultrapasse 10% da renda bruta, recomendado para trocas de dívidas contraindo crédito com juros menores, recorrência é uma alternativa saudável comparada ao empréstimo pessoal.
Como funciona: A instituição financeira firma um convênio com a empresa empregadora, no recebimento do salário o empréstimo é descontado e apenas o líquido é depositado na conta do tomador, um tipo de crédito com risco menor por isso possui taxas de juros competitivas.
Quando não deve ser usado: Quando o comprometimento da renda ultrapassar 10%, ou o volume de parcelas passar de 10x.
O que devo saber antes de usar: A empresa empregadora deve possuir convênio com alguma instituição que oferte essa linha, deve ter a ciência de não contrair outras linhas de crédito uma vez que já possui uma que incide compulsoriamente em sua folha de pagamento, essa linha de crédito reduz a capacidade de pagamento do tomador uma vez que compromete sua folha de pagamento.
Cheque Especial
Pra quem é indicado: Para usuários que emitiram cheques com valor maior do que o disponível para honra-los, emergências e urgências.
Como funciona: A instituição financeira após um período de relacionamento pode aprovar um limite de cheque especial para cobrir eventuais cheques ou fica a disposição do cliente para que seja tomado para qualquer finalidade.
Quando não deve ser usado: Consumo, uso recorrente, descontrole ou desequilíbrio de fluxo de caixa. (Fluxo de caixa é comum para empresas, mas o conceito na pessoa física possui o mesmo efeito).
O que devo saber antes de usar: É um crédito com juros nocivos, as novas regras do BACEN para 2020 tornam o produto menos atrativo com a liberação de cobrança de taxas ainda que não se faça uso do mesmo, é uma forma de frear a elevação de endividamento da população, buscando patamares mais saudáveis de risco de crédito.
Para mais informações do Cheque especial acesse. https://analistaconfesso.blogspot.com/2019/12/como-funcionara-o-cheque-especial.html
CGI (Crédito com Garantia Imobiliária)
Pra quem é indicado: Tomadores que necessitam de valores superiores a R$ 30mil, que tenham imóvel com mais de 50% do valor quitado, com objetivo de realizar processos que exijam valores maiores como: reformas, investimentos em negócios, ampliações, profissionais autônomos com necessidade de investir em seu próprio negócio, ou troca de dívidas com alta taxa de juros por algo mais competitivo, podendo também alongar o prazo para que haja melhor tempo para se organizar. Indicado para quem possui imóveis residenciais localizados em área urbana com grande contingente populacional.
Como funciona: Há dois tipos de CGI, Hipoteca e Refinanciamento com Alienação Fiduciária, falaremos do segundo tipo (poderemos abordar hipoteca em outra oportunidade), a instituição concede um percentual do valor do imóvel em crédito, refinanciando parte do bem, geralmente esse percentual não passa de 50% mas pode variar de acordo com o apetite de risco de cada instituição, os prazos variam de 35 a 240 meses, permitindo maior fôlego de planejamento para o tomador.
Quando não deve ser usado: Consumo, necessidade inferior a R$ 30mil (devido aos custos agregados da análise de crédito).
O que devo saber antes de usar: É uma linha desconhecida de muitos brasileiros, por isso vale saber que: O imóvel pode ser de terceiros (pais, familiares, amigos) os tomadores se casados ou em união estável devem assinar conjuntamente para que ambos estejam cientes da negociação, há políticas de valores de regiões que devem ser observadas, bem como custos de avaliação e registros que devem ser calculados para entender em detalhes o custo da operação, envolve alta burocracia pois há uma dependência dos serviços cartoriais (lentos e de alto custo), a análise de crédito congrega os envolvidos no contrato e a garantia apresentada, portanto as documentações em ordem e atualizadas elevam a chance de uma concessão positiva.
Aqui fiz o exercício de compartilhar uma ficha técnica muito resumida dos principais produtos, fica aberto para que outros profissionais de crédito complementem assim teremos uma ótima bula de consulta e uso consciente do crédito.