Falar de salário é algo cultural, cada país tem uma forma de tratamento nesse assunto dinheiro e salário.
Nos EUA é comum as pessoas se abrirem para falar, perguntar e responder sobre salário, em países da América Latina soa como rude e invasivo, no Japão as transações em estabelecimentos comerciais o cliente coloca o dinheiro em uma pratinho e o comerciante aguarda e pega o pratinho, na devolução do troco ocorre o mesmo, tanto comprador quanto vendedor não encostam no dinheiro ao mesmo tempo, por isso quando tratamos de salário temos uma forte influência cultural.
Já que estou fazendo confissões do mundo da análise de crédito, vamos explorar nesse segundo post, quanto ganha uma analista que avalia se pessoas e empresas tem direito a crédito?.
Analistas de Crédito diferentes refletem no salário.
Os analista não são iguais apesar de serem de crédito, para facilitar vou dividir o universo dos analistas de crédito em 2 partes.
Analistas Crédito Estratégicos: São analistas que criam políticas, avaliam dados, resultados, propões testes, efetuam manutenção nas políticas de crédito, realizam apresentações ao corpo diretivo e acompanham o resultado de suas estratégias tanto na campo estratégico quanto analítico. Nesse universo os analistas estratégicos avaliam bases de dados, relatórios e não tem contato (ou raramente) com o cliente final.
Analistas de Crédito Operacionais: Executam as políticas dos analistas de crédito estratégicos, avaliam cliente a cliente, conferem dados e informações, validam documentos, pesquisam dados e informações e muitas vezes tem contato direto com o cliente final, para entender alguma informação específica ou para solicitar novos dados para melhor suporte na decisão. Em caso de duvidas ou arbitração de alguma decisão recorrer aos analistas estratégicos
Responsáveis pela política.
Veja que aqui não falamos do tipo de produto de crédito (Consignado, Crédito pessoal, Financiamento, Agrícola, Crédito imobiliário), estamos falando de dois perfis distintos de analistas que servem ao propósito de analisar crédito, independente do produto, teremos 2 grupos, estratégico/analítico e outro operacional.
Não necessariamente seja uma progressão de carreira passar pelos dois grupos, observei exemplos que tenham trabalhado nas duas posições ou somente em uma, em minha carreira não observei muitos casos que migraram de uma área para outra, vi poucas vezes esse movimento.
No grupo dos analistas estratégicos / analíticos vi diversas formações acadêmicas de graduação (administração, estatística, engenharia, física, matemática, economia, educação física, dentista…é já vi um pouco de tudo), a grande maioria advinda da área das exatas, devido ao raciocínio lógico para analise de dados, números, informações que proponham soluções ou suporte a decisão. Os analistas estratégicos estão diretamente envolvidos com iniciativas de automação na decisão.
Para o grupo dos analista de crédito operacionais, a necessidade de uma formação acadêmica, apesar de ser um diferencial, em muitas situações não é obrigatória, muitos analistas operacionais com quem tive contato tinham graduação média / técnica, focada na aplicação das políticas, validação de informações para decisão final cabendo a esse grupo enquadrar as situações que cabem na política ou direcionar para uma avaliação por excessão.
Essa distinção de atuação reflete em analistas com patamares salariais também segregados, onde em média os salários de analistas estratégicos é mais alto quando comparamos a média salarial dos analistas de crédito operacionais.
Cabe lembrar que em devidas proporções a responsabilidade de cada grupo também é distinta o que reforça a explicação na diferença salarial entre os dois grupos.
Outro ponto que pode alterar sensivelmente os valores salariais são os produtos de crédito, produtos de crédito mais complexos, apadronizados e de alto valor tendem a pagar uma média salarial mais alta, pois exigem profissionais mais qualificados, produtos simplificados e padronizados permitem automação reduzindo a necessidade de capital humano e por consequência reduz o “preço˜ da decisão, nesse caso muitos analistas operacionais tendem a ser substituídos ou possuem cada vez menos espaço devido a automação e isso está em crescimento constante.
A média de salário envolve 3 fatores:
- qual perfil de qualificação se enquadra o analista
- nicho econômico da empresa que está concedendo (bancos, serviços, cooperativas, empresas de produtos etc…)
- produto de crédito (consignado, cartão de crédito, crédito para empresas, agrícola.
Por isso não há analistas de crédito apenas em empresas financeiras, esses profissionais são necessários em qualquer sistema que necessita comercializar a prazo, tanto para pessoas físicas quanto jurídicas e isso também influencia no patamar salarial, quanto mais abundante for o mercado nos 3 fatores acima em teoria haverá mais profissionais disponíveis e por consequência a média salarial será menor.
Em 2019 (data desse post) pesquisei salários nos dois perfis de analistas e aqui compartilho valores e fontes.
Entre R$ 1.600,00 e R$ 5,000,00 para analistas de crédito operacionais.
Entre R$ 6.000,00 e R$ 14.800,00 para analistas de crédito estratégicos/analíticos
A remuneração também depende de outros fatores fora a nomenclatura do cargo (júnior, pleno e sênior), como região do país em que o analista trabalha, nível de especialização, experiência, comportamento e "empoderamento" no momento de negociar o salário.
É algo que se negocia na entrada
Compartilho minha experiência no quesito salário: É algo que se negocia na entrada, uma vez que o analista confia no papo “trabalhe por esse salário inicial e depois poderemos rever” ou “você crescerá junto com a empresa” é um discurso legal mas muita coisa pode acontecer.
Aceitei o discurso como esse no passado, 30 dias após minha contratação meu chefe mudou de empresa e o novo não podia cumprir a palavra do anterior, outra vez trabalhei duro durante todo o ano e no final não havia “budget” (orçamento) para um aumento, houve uma empresa que no meio do ano implantou a chamada curva forçada de avaliação (explicarei isso em outro post) e mais uma vez não recebi a promessa do “poderemos rever no futuro”.
Não quero dizer como você deve fazer, afinal cada um deve saber o que deseja pra si como remuneração, posso dizer que depois de tanto errar um dia aprendi e passei a negociar no momento de entrada, afinal não é pecado pedir quanto deseja, não há um mandamento que lhe enviará pro inferno por isso, e outra se você não se valorizar como espera que o empregador o faça?
Fontes: